Uma das grandes dificuldades com os quais os estudiosos das Escrituras tem de lidar é a quantidade, qualidade e confiabilidade dos manuscritos bíblicos. Os textos mais antigos do Velho Testamento eram do século X aproximadamente. Como saber se eram confiáveis? Até que ponto não sofreram alterações significativas desde o tempo em que fora escrito por seus autores?

Essa grande descoberta ocorreu em março de 1947, quando um jovenzinho árabe (Muhammad adh-Dhib) estava perseguindo uma cabra perdida nas grutas, a doze quilômetros ao sul de Jerico e um e meio quilômetro a oeste do mar Morto. Numa das grutas ele descobriu umas jarras que continham vários rolos de couro. Entre esse dia e fevereiro de 1956, onze grutas que continham rolos e fragmentos de rolos foram escavadas próximo a Qumran. Nessas grutas, os essênios, seita religiosa judaica que existiu por volta da época de Cristo, haviam guardado sua biblioteca. Somando tudo, os milhares de fragmentos de manuscritos constituíam os restos de seiscentos manuscritos.

Os manuscritos que trazem o texto do Antigo Testamento são os de maior interesse para nós. A Gruta 1 é a que havia sido descoberta pelo jovem árabe, a qual continha sete rolos mais ou menos completos e alguns fragmentos, dentre os quais o mais antigo livro que se conhece da Bíblia (Isaías Á), um Manual de disciplina, um Comentário de Habacuque, um Apócrifo de Gênesis, um texto incompleto de Isaías {Isaías B), a Regra da guerra e cerca de trinta Hinos de ação de graça. Na Gruta 2 foram encontrados outros manuscritos; essa gruta havia sido descoberta por beduínos que roubaram alguns artigos. Descobriram-se ali fragmentos de cerca de cem manuscritos; nenhum desses achados, porém, foi tio espetacular como o que se descobriu nas demais grutas.

Na Gruta 3 foram achadas duas metades de um rolo de cobre que dava instruções sobre como achar sessenta ou mais lugares que continham tesouros escondidos, a maior parte dos quais em Jerusalém ou em seus arredores. A Gruta 4 (a Gruta da Perdiz) também havia sido pilhada por beduínos, antes de ser escavada em setembro de 1952. No entanto, verificou-se que haveria de ser a gruta mais produtiva de todas, visto que literalmente milhares de fragmentos foram recuperados e reconstituídos, quer mediante compra dos beduínos, quer em decorrência da peneiração arqueológica da poeira do solo da gruta. Um fragmento de Samuel que se encontrou aqui é tido como o mais antigo trecho de hebraico bíblico conhecido, pois data do século IV a.C.

Na Gruta 5 acharam-se alguns livros bíblicos e outros apócrifos em avançado estado de deterioração. A Gruta 6 revelou a existência de mais fragmentos de papiro que de couro.

As Grutas de 7 a 10 forneceram dados de interesse para o arqueólogo profissional, nada, porém, de interesse relevante ao estudo que estamos empreendendo. A Gruta 11 foi a última a ser escavada e explorada, em começos de 1956. Ali se encontrou uma cópia do texto de alguns salmos, incluindo-se o salmo apócrifo 151, que até essa data só era conhecido em textos gregos. Encontrou-se, ainda, um rolo muito fino que continha parte de Levítico e um Targum (paráfrase) aramaico de Jó. Estimulados por essas descobertas originais, os beduínos insistiram nas buscas e descobriram outras grutas a sudoeste de Belém.

Aqui, em Murabba’at, descobriram alguns manuscritos que traziam a data e alguns documentos da segunda revolta judaica (132-135 d.C). Esses documentos ajudaram a confirmar a antiguidade dos rolos do mar Morto. Descobriu-se também outro rolo dos profetas menores (de Joel a Ageu), cujo texto se aproxima muito do texto massorético. Além disso, descobriu-se ali um palimpsesto, o papiro semítico (o primeiro texto havia sido raspado) mais antigo de que se tem notícia.

O segundo texto nele gravado era em hebraico antigo, dos séculos VII e VIII a.C. Vários tipos de evidências tendem a dar apoio às datas dos rolos do mar Morto. Em primeiro lugar está o processo do carbono 14, que dá a esses documentos a idade de 1917 anos, com margem de variação de 200 anos (10%). Isso significa que tais documentos datam de 168 a.C. a 233 d.C. A paleografia (estudo da escrita antiga e de seus materiais) e a ortografia (redação correta das palavras) marcam a data de alguns desses manuscritos anteriores a 100 a.C. A arqueologia trouxe mais algumas evidências paralelas, mediante o estudo da cerâmica encontrada nas grutas: descobriu-se que era da baixa Era Helenística (150-163 a.C.) e da alta Era Romana (63 a.C-100 d.C.). For fim, as descobertas de Murabba’at corroboraram as descobertas de Qumran. A natureza e o número dessas descobertas do mar Morto produziram as seguintes conclusões gerais a respeito da integridade do texto massorético. Os rolos fornecem espantosa confirmação da fidelidade do texto massorético. Millar Burrows, em sua obra The Dead Sea scrolls [Os rolos do mar Morto], mostra que existiram pouquíssimas alterações do texto, num período aproximado de mil anos. R. Laird Harris, em sua obra Inspiration and canonicity ofthe Bible [A inspiração e a canonicidade da Bíblia], sustenta que existem menos diferenças nessas duas tradições, em mil anos, do que em duas famílias de manuscritos do Novo Testamento.

Gleason Archer, autor de A survey of Old Testament introduction [Pesquisa para introdução ao Antigo Testamento] apóia a integridade do texto massorético ao declarar que tal texto concorda com o manuscrito de Isaías encontrado na Gruta 1 em 95% de seu conteúdo. Os restantes 5% compreendem lapsos óbvios da pena e variações de grafia que ocorreram naquele ínterim.

Somente em 1949 foi dada licença para os arqueólogs entrarem na região e iniciar suas pesquisas e escavações. Com o tempo foi identificada como uma comunidade essênia, um grupo de judeus ascéticos que viveu naquela região denominada Qunram. Havia algumas menções dos mesmos nos escritos do historiados Flávio Josefo. Abaixo, transcrevemos duas passagens nos quais ele faz descrição dessa seita judaica:

Havia então entre nós três seitas, divergentes nas questões relativas às ações humanas. A primeira era a dos fariseus; a segunda, a dos saduceus; a terceira, a dos essênios. Os fariseus atribuem certas coisas ao destino, porém nem todas, e crêem que as outras dependem de nossa liberdade, de sorte que podemos realizá-las ou não. Os essênios afirmam que tudo geralmente depen­de do destino e que nada nos acontece que ele não determine. Os saduceus, ao contrário, negam absolutamente o poder do destino, dizendo que ele é uma quimera e que as nossas ações dependem tão absolutamente de nós que somos os únicos autores de todos os bens e males que nos acontecem, confor­me seguimos um bom ou um mau conselho. (História dos Hebreus 520)

Os essênios, a terceira seita, atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção, à providência de Deus. Crêem que as almas são imortais, acham que se deve fazer todo o possível para praticar a justiça e se contentam em enviar as suas ofertas ao Templo, sem oferecer lá os sacrifícios, porque o fazem em particular, com cerimô­nias ainda maiores. Os seus costumes são irreprocháveis, e a sua única ocupação é cultivar a terra. Sua virtude é tão admirável que supera em muito a dos gregos e de outras nações, porque eles fazem disso todo o seu empenho e preocupação e a ela se aplicam continuamente. Possuem todos os bens em comum, sem que os ricos tenham maior parte que os pobres. O seu número é superior a quatro mil. Não têm mulheres nem criados, porque estão convencidos de que as mulheres não contribuem para o descanso da vida. Quanto aos criados, consideram uma ofensa à natureza, que fez todos os homens iguais, querer sujeitá-los. Assim, eles se ser­vem uns dos outros e escolhem homens de bem da ordem dos sacerdotes, que recebem tudo o que eles recolhem de seu trabalho e têm o cuidado de fornecer alimento a todos. Essa maneira de viver é quase igual à dos que chamamos plistes e vivem entre os dácios.

Além de muitos escritos peculiares à seita dos essênios, foram descobertos em Qunram cópias de todos os livros do Antigo Testamento, exceto o livro de Ester. Embora a princípio alguns estudiosos céticos creditassem que a descoberta dessa comunidade abalaria os alicerceres do cristianismo, na verdade forneceu amplo apoio para a bibliografia sagrada do Antigo Testamento sem sequer provocar um arranhão às bases de nossa historiagrafia cristã. Foi sem dúvida uma dos maiores achados arqueológicos do Século XX. Mais uma prova que jamais a Bíbia terá o que temer a medida que mais sítios forem escavados. Cada vez mais a veracidade bíblica será trazida à tona.

TEOLOGAR, Instituto – Curso de Bibliologia – Lição 13 – Apêndice

13 Comments

  • Edilene Lucia da Silva disse:

    Que benção obrigado pela oportunidade de aprender mas sobre a palavra de Deus

    • Gian disse:

      Como é fantástica a palavra de Deus, quanto mais nos aprofundamos mais ficamos maravilhados com a grandeza do Senhor…Maranata

  • Adriana disse:

    É tudo muito lindo e maravilhoso aprender sobre a bíblia!!!!!!!

  • Teresinha disse:

    Muito obrigada muitíssimo importante que maravilha Deus te abençoe grandemente

  • E uma descoberta milagrosa que só vêm acrescenta averecidade da bíblia

  • Paulo Luiz disse:

    Glória a Deus por toda a equipe Teologar . !!!

  • Admilson souza vieira pinto disse:

    Obrigado teologar que texto maravilhoso que Deus abençoe vcs sempre é uma pena a distância pois sou do interior de São paulo um forte abraço a todos shalom

  • Vilma Coelho disse:

    É maravilhoso como Deus trás toda essas confirmações após tantos anos depois de tudo acontecer. Só o cuidado de um Deus poderoso pra fazer isso. A cada dia me surpreendo mais com esse Deus.

  • ALCIMAR GARCIA MARTINS disse:

    Muito obrigado por nos presentear com esses ensinamentos. É simplesmente maravilhoso. Glória a Deus!!

  • Luciano Ferreira disse:

    Em 1945, um pastor encontrou um jarro de cerâmica numa gruta próxima a sua aldeia no Egito. Ao abri-lo, achou vários livros escritos em idiomas que ele não compreendia. Algumas folhas amareladas servi… a coleção de Nag Hammadi, 13 livros com 1 600 anos , Bispo fala sobre essa matéria da super?

    Leia mais em: https://super.abril.com.br/historia/a-historia-secreta-do-cristianismo/

  • Rosa Medeiros disse:

    Que bom, Deus abençoe sua vida por dividir seu conhecimento com a gente, ainda estou lendo aos poucos, meu trabalho é muito corrido, mais eu tô aprendendo nas horas de descanso de almoço.muito obrigado!

  • Edson Oliveirs6 disse:

    Muito bom o assunto nos dá mais informações nessa área do aprendizado teológico. Deus continue lhe abençoando. Graça e Paz.

  • Sérgio Azevedo disse:

    Uma das coisa mais lindas nesses achados é a forma que os essênios destacavam o nome de Deus, pois eles o preservava da primeira forma em que foi escrito o nome divino; em aramaico enquanto todas as outras palavras , nomes, títulos eles escreviam no hebraico quadrático. Então o nome de Deus ficava em evidência para aqueles que eram judeus que guardavam a tradição, porém qualquer outro que fosse só estudante do hebraico não encotraria o nome יהוה dessa forma moderna e sim da forma Aramaica .

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