Os críticos afirmam que a Bíblia está cheia de erros. Alguns falam, até mesmo, em milhares de erros. A verdade é que não há nem mesmo um só erro no texto original da Bíblia que tenha sido demonstrado. Isso não quer dizer que não haja dificuldades em nossas Bíblias. Dificuldades há, e é delas que este artigo vai tratar. Seu propósito é mostrar que não há realmente erros nas Escrituras. Por quê? Porque a Bíblia é a Palavra de Deus, e Deus não pode errar. Vamos raciocinar. Vamos tratar isto de uma forma lógica examinando as premissas:

Deus não pode errar.

A Bíblia é a Palavra de Deus.

Portanto, a Bíblia está isenta de erros.

            Como qualquer estudante de lógica sabe, este é um silogismo (uma forma de raciocínio) válido. Assim, se as premissas são verdadeiras, as conclusões também são verdadeiras. Como vamos mostrar, a Bíblia declara sem rodeios ser a Palavra de Deus. [1] Ela nos informa também que Deus não pode errar. A conclusão, então, é inevitável: a Bíblia está isenta de erros. Se ela estivesse errada em qualquer coisa que afirma, então Deus teria cometido um erro. Mas Deus não pode cometer erros.

Deus não pode cometer erros

            As Escrituras declaram enfaticamente que “é impossível que Deus minta” (Hb 6:18). Paulo fala do “Deus que não pode mentir” (Tt 1:2). Ele é um Deus que, mesmo que não sejamos fiéis, “permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2:13). Deus é a verdade (Jo 14:6) e assim também é a Palavra dele. Jesus disse ao Pai: “a tua Palavra é a verdade” (Jo 17:17). O salmista exclamou: “As tuas palavras são em tudo verdade” (SI 119:160).

A Bíblia éa Palavra de Deus

Jesus referiu-se ao AT como sendo a “Palavra de Deus”, que “não pode falhar” (Jo 10:35). Ele disse: “até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5:18). Paulo acrescentou: “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3:16). Ela veio “da boca de Deus” (Mt 4:4). Embora tenham sido homens aqueles que escreveram as mensagens, “nunca, jamais, qualquer profecia foi dada por

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vontade humana; entretanto, homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1:21). [2]

            Jesus disse aos líderes religiosos de seus dias que eles vinham “invalidando a palavra de Deus” pela sua própria tradição (Mc 7:13). Jesus chamou-lhes a atenção para a Palavra de Deus escrita quando repetidamente afirmou: “Está escrito … está escrito … está escrito …” (Mt 4:4, 7,10). Esta frase aparece mais de noventa vezes no NT. É uma forte indicação da autoridade divina da Palavra de Deus escrita.

            Dando ênfase à natureza inerrante da verdade de Deus, o apóstolo Paulo referiu-se às Escrituras como “a palavra de Deus” (Rm 9:6). O autor de Hebreus declarou que “a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao pontode dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4:12).

Conclusão lógica: A Bíblia é isenta de erros

Sim,Deus falou, e ele não titubeou. O Deus da verdade nos deu a Palavra da Verdade, e ela não contém inverdade alguma. A Bíblia é a inerrante Palavra de Deus. [3]

Pode-se confiar na Bíblia em questões de Ciência e de História?

            Alguns têm sugerido que as Escrituras sempre podem ser confiáveis em questões de ordem moral, mas que nem sempre são corretas em questões históricas. Eles confiam na Bíblia no campo espiritual, mas não na esfera da ciência. Se isso fosse verdade, entretanto, negaria a autoridade divina da Bíblia, já que o espiritual, o histórico e ocientífico então freqüentemente Interligados.

            Um cuidadoso exame das Escrituras revela-nos que as verdades científicas (fatuais) e as espirituais são muitas vezes inseparáveis. Por exemplo, não se pode separar a verdade espiritual da ressurreição de Cristo do fato de que o seu corpo deixou para sempre vazio o seu túmulo e que depois ele apareceu fisicamente (Mt 28:6; 1 Co 15:13-19).

            Da mesma forma, se Jesus não tivesse nascido de uma mulher biologicamente virgem, então ele não seria diferente do resto da humanidade, sobre quem recai o estigma do pecado de Adão (Rm 5:12). Também a morte de Cristo por nossos pecados não pode ser separada do fato de que ele derramou literalmente o seu sangue na cruz, pois “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9:22).

            A existência e a queda de Adão tampouco podem ser um

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mito. Se não tivesse havido literalmente um Adão, e se não tivesse havido de fato a queda, então o ensino espiritual quanto ao pecado herdado e quanto à morte física, dele decorrente, estaria errado (Rm 5:12). A realidade histórica e a doutrina teológica juntas permanecem ou juntas caem por terra.

            Além disso, a doutrina da encarnação é inseparável da verdade histórica de Jesus de Nazaré (Jo 1:1,14). E ainda, o ensino de caráter moral de Jesus quanto ao casamento baseou-se no que ele ensinou quando disse que Deus juntou literalmente um Adão e uma Eva em matrimônio (Mt 19:4-5). Em cada um destes casos, o ensino moral e o teológico perdem totalmente o sentido se desconsiderado o evento histórico e fatual. Negando-se que aquele evento ocorreu literalmente no tempo e no espaço, fica-se então sem uma base para crer na doutrina bíblica construída sobre ele.

            Com freqüência, Jesus comparou eventos do AT diretamente com importantes verdades espirituais. Por exemplo, ele relacionou sua morte e ressurreição com Jonas e o grande peixe (Mt 12:40). Da mesma forma, sua segunda vinda foi comparada com os dias de Noé (Mt 24:37-39). Tanto as circunstâncias como as características de tais comparações deixam claro que Jesus estava afirmando que aqueles eventos foram fatos históricos, que realmente aconteceram. De fato, Jesus afirmou a Nicodemos: “Se tratando de coisas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?” (Jo 3:12). Em resumo, se a Bíblia não falasse com verdade a respeito do mundo físico, então ela não poderia ser digna de confiança ao referir-se ao mundo espiritual. Os dois mundos acham-se intimamente relacionados.

            A inspiração inclui não apenas tudo o que a Bíblia explicitamente ensina, mas inclui também tudo a que ela se refere. Isso é verdade quando a Bíblia se reporta à história, à ciência ou à matemática. Tudo o que a Bíblia declara é verdadeiro – podendo der tanto um ponto de maior como também de menor importância. A Bíblia é a Palavra de Deus, e Ele não se desvia da verdade em nenhum momento. Todas as partes das Escrituras são verdadeiras, assim como o todo que elas formam.

Se éinspirada, é inerrante

            A inerrância é uma decorrência lógica da inspiração. Porque inerrância significa verdade total, sem erros. E o que Deus profere (inspira) tem de ser completamente verdadeiro e sem erros (inerrante). Contudo, convém especificar com maior clareza o que significa “verdade” e o que constitui um “erro”.[4]

            Verdade significa aquilo que corresponde à realidade. Um erro, então, é o que não corresponde à realidade. A verdade é dizer o que de fato é. Um erro é não dizer o que é. Conseqüentemente, nenhuma coisa errada pode ser verdadeira, mesmo que o autor pretendesse que o seu erro fosse algo verdadeiro. Um erro é um erro, não simplesmente alguma coisa que nos faça errar. De outro modo, toda expressão sincera poderia ser considerada verdadeira ainda que se tratasse de um erro grosseiro.[5]Da mesma forma, algo não é verdadeiro simplesmente porque realiza o propósito que havia sido estabelecido, já que muitas mentiras são bem-sucedidas.

            A Bíblia vê claramente a verdade como aquilo que corresponde à realidade. O erro é entendido como sendo uma falta de correspondência à realidade, não como algo causado intencionalmente. Isso é evidente pelo fato de que a palavra “erro” é usada no caso de erros não-Intencionais (Lv 4:2). Na Bíblia inteira está implícita a visão de que a verdade baseia-se numa correspondência entre duas coisas. Por exemplo, quando os Dez Mandamentos declaram: “Não dirás falso testemunho” (Êx 20:16) significa que deturpar fatos está errado. Este mesmoconceito de verdade foi usado quando os judeus foram ao governador para falar a respeito de Paulo: “Tu mesmo, examinando-o, poderás tomar conhecimento de todas as coisas de que nós o acusamos”. E, ao fazer isso, é como se eles estivessem dizendo: “É verdade, tu podes facilmente verificar os fatos” (cf. At 24:8).

Foi assim que Deus disse?

            Naturalmente, toda vez que Deus tornou a verdade bem clara, a estratégia de Satanás foi lançar dúvidas sobre ela. Sempre que Deus falou com autoridade, o diabo desejou solapá-la. “Será que Deus disse isso?”, ele fala com escárnio (cf. Gn 3:1). Esta confusão, com freqüência, acontece da seguinte maneira: A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada de alguma forma, mas é também constituída de palavras humanas. Ela teve autores humanos, e “errar é humano”. Daí, temos de esperar haver alguns erros na Bíblia… Por aí vai esse argumento. Em resumo, a verdade clara e simples de Deus acaba sendo confundida com a mentira de Satanás, o senhor das mentiras (Jo 8:44).

Vamos analisar o que há de errado nesta argumentação. Uma simples analogia nos ajudará. Considere o seguinte raciocínio que, por ser paralelo àquele, é igualmente falho:

1.   Jesus era um ser humano.

2.   Os seres humanos pecam.

3.   Logo, Jesus pecou.

            Qualquer estudante da Bíblia sabe de imediato que esta conclusão é falsa. Jesus foi um homem “sem pecado” (Hb 4:15). Ele “não conheceu pecado” (2 Co 5:21). Ele foi um “cordeiro sem defeito e sem mácula” (1 Pe 1:19). Como João disse a respeito de Jesus: “ele é puro” e “justo” (1 Jo 3:3; 2:1). Mas, se Jesus nunca pecou, então o que está errado no argumento acima, de que Jesus era humano, de que OS homens pecam e de que, portanto, Jesus pecou? Onde é que a lógica se perde?

            O erro está em se assumir que Jesus era como qualquer outro ser humano. Com certeza, meros seres humanos pecam. Mas Jesus não foi um mero ser humano. Ele foi um ser humano perfeito. De fato, Jesus não era apenas humano, mas ele era também Deus. Da mesma forma, a Bíblia não é meramente um livro humano. Ela é também a Palavra de Deus. Como Jesus, ela é tanto divina como humana. E da mesma forma como Jesus era humano, mas não pecou, também a Bíblia é um livro humano, mas sem erros. Tanto a Palavra viva de Deus (Cristo) como a sua Palavra escrita (as Escrituras) são igualmente humanas, mas sem erros. A Palavra viva e a Palavra escrita são também divinas, e não podem conter erros. Não pode haver erros na Palavra de Deus escrita, como não houve pecado algum na Palavra de Deus viva. É impossível Deus errar, e ponto final.

Fonte: MANUAL POPULAR de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia, Norman Geisler – Thomas Howe

Tradução: Milton Azevedo Andrade


[1] Para uma abordagem mais completa, veja Norman L. Geisler e William E. Nix, A General Introduction to the Bible: Revised and Expanded, Chicago: Moody Press, 1986, capítulos 3-6.

[2] Veja ibid, capítulos 1-11.

[3] Para uma defesa da inerrância da Bíblia por um grupo de eruditos evangélicos, veja Norman L. Geisler ed.,Inerrancy, Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1979.

[4] Para uma abordagem mais profunda deste ponto, veja Norman L. Geisler, The Concept of Truth in the Inerrancy Debate (O Conceito da Verdade no Debate da Inerrância), Bibliotheca Sacra (out./dez., 1980).

[5] Este é o erro de G. C. Berkouwer, Holy Scripture, Grand Rapids: Eerdmans, 1975, e de Jack Rogers, Biblical Authority, Waco, TX: Word, 1978. Ao definir erro como aquilo que ilude, em vez do que está Incorreto, eles descaracterizam todos os erros sinceros como erros.

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